quarta-feira, 14 de julho de 2010

Um pouco de mim

"Eu sou lúcida na minha loucura, permanente na minha inconstância, inquieta na minha comodidade.

Pinto a realidade com alguns sonhos, e transformo alguns sonhos em cenas reais.

Choro lágrimas de rir e quando choro pra valer não derramo uma lágrima.

Amo mais do que posso e, por medo, sempre menos do que sou capaz.

Busco pelo prazer da paisagem e raramente pela alegre frustração da chegada.

Quando me entrego, me atiro e quando recuo não volto mais.

Mas não me leve a sério, sei que nada é definitivo.

Nem eu sou o que penso que eu sou. Nem nós o que a gente pensa que tem.

Prefiro as noites porque me nutrem na insônia, embora os dias me iluminem quando nasce o sol.

Trabalho sem salário e não entendo de economizar. Nem de energia.

Esbanjo-me até quando não devo e, vezes sem conta, devo mais do que ganho.

Não acredito em duendes, bruxas, fadas ou feitiços.

Não vou à missa. Nem faço simpatias. Mas, rezo pra algum anjo de plantão e mascaro minha fé no deus do otimismo.

Quando é impossível, debocho.

Quando é permitido, duvido.

Não bebo porque só me aceito sóbria, fumo pra enganar a ansiedade e não aposto em jogo de cartas marcadas.

Penso mais do que falo. E falo muito, nem sempre o que você quer saber.

Eu sei. Gosto de cara lavada — exceto por um traço preto no olhar — pés descalços, nutro uma estranha paixão por camisetas velhas e sinto falta de uma tatuagem no lado esquerdo das costas.

Mas há uma mulher em algum lugar em mim que usa caros perfumes, sedas importadas e brilho no olhar, quando se traveste em sedução.
 
Se você perceber qualquer tipo de constrangimento, não repare, eu não tenho pudores mas, não raro, sofro de timidez.
 
E note bem: não sou agressiva, mas defensiva. Impaciente onde você vê ousadia.  Falta de coragem onde você pensa que é sensatez.
 
Mas mesmo assim, sempre pinta um momento qualquer em que eu esqueço todos os conselhos e sigo por caminhos escuros. Estranhos desertos


Martha Medeiros

Nenhum comentário:

Postar um comentário